2009-06-25

GARAPA

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O que é garapa? De onde venho, garapa é como chamamos o suco, feito do caldo da cana após ser muida em uma engenhoca. Mas, infelizmente não é nem dessa Garapa que o documentário fala. Açucar e água, ou água com açúcar, aquilo que se dá para acalmar as pessoas vez por outra, esse mesmo “remédio” vira fonte única de alimentação na realidade da seca nordestina. Não há cana, não há nada, apenas um pouco de comida dado pelo projeto “fome zero” para esses brasileiros, que o são tão brasileiros como qualquer outro, pois sofrem por toda a má distribuição de terra, feita ao longo da história de um país construído por interesses da elite e pelas mãos dos pobres.

É dessa realidade que o documentário de Padilha trata, e como prometido, em um post anterior, venho aqui relatar. O filme fala exatamente disso, é o que esperávamos, nem menos nem mais, trata da fome, do esquecimento. Mas supera a imaginação e mostra a realidade, uma verdade que só se compara a que Graciliano Ramos descreve em “vidas secas”; trata-se de uma realidade árida, sem romance, onde os personagens não tem nome, os filhos são os mais velhos, os maios novos... muitos. O tempo da exibição parece não passar, e o fim...

Parece que ainda agora não chegou.

2009-06-12

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Oi, povo querido! (desculpem a demora)

Eu li uma coisa um dia desses e senti muita vontade de compartilhar com vocês. Achei tão bonito, tão eloqüente... é da Clarice Lispector, do livro Felicidade Clandestina:


"... Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."


Me fez pensar em todas as negações forjadas como "ideais" que a gente tanto tenta sempre inventar. Ela mencionou Deus, mas eu penso em muitos "eus" imaginários que são construídos como forma de amarmos o nosso contrário, para que o convívio com si próprio seja menos incômodo e mais tranqüilizador.


(agora me sinto um mebro de fato)
Beijo para todos!

2009-06-03

Um pouco de poesia.

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Bem, esse é um dos meu preferidos do Drummond. Ele fala do instante supremo. Sejamos super-homens, meus amigos. Sem mais delongas:

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Carlos Drummond de Andrade